quarta-feira, 28 de outubro de 2015

As “ausências” de Deus

Por Thaís Biffe Alves


Deus nos convida a viver o Evangelho. Maria nos convida a imitar o seu “sim” a Deus. Cristo nos chama para fora de nosso sepulcro, assim como chamou Lázaro. A escolha é nossa.

Escolher a Deus é escolher entrar pela porta estreita. É escolher o caminho pedregoso, cheio de tribulações e provações. É esse o caminho que nos leva à salvação e precisaremos da sabedoria do Espírito Santo para vivê-lo fielmente.

Na passagem da ressurreição de Lázaro, é necessário observar as peculiaridades que nos auxiliam a entender o chamado de Cristo. Quando Deus nos chama e nós abrimos o coração ao seu chamado, é preciso abandonar-se de si mesmo e deixar-se conduzir. Isso significa caminhar no desconhecido, mas na certeza de que há um Deus que nos sustenta. Assim, quando Jesus chama Lázaro para fora, precisamos pensar no trajeto que Lázaro fez até chegar ao encontro do Mestre. Estava todo enrolado em faixas, dentro de um sepulcro escuro, sem poder enxergar a luz. Mas, ouvindo a voz de Cristo, imaginamos que teria se arrastado, se apoiado nas paredes e caminhado a passos curtos e vagarosos até que pudesse ser sustentado por aqueles que o aguardavam.

Assim é o caminho daqueles que ouvem a voz de Deus. Muitas vezes caem, se arrastam, se debruçam, se apoiam, mas se mantêm firmes Naquela voz que os chama. 

Mas há momentos que, mesmo estando reto à vontade do Pai, somos privados de ouvir Sua voz. Ah, maior angústia não pode haver. Sentimo-nos como que abandonados, deixados à deriva do mar da vida. São os momentos de “ausência” de Deus. Quanta solidão! Quanta angústia sentimos na alma, causando-nos sentimentos de revolta. É mais uma das provações de nosso Senhor.

Deus nunca nos abandona. Nós é que nos permitimos afastar Dele. É através do menor dos pecados que privamos a graça de agir em nós. E aí nos vemos na escuridão, abandonados. Nesses momentos Deus também prova nossa capacidade de voltar-nos a Ele com maior intensidade. São momentos de lutas intensas que, muitas vezes, parece estarmos lutando sozinhos. Mas não, Deus nos observa, está sempre conosco e quer nos ver lutar pelo Seu amor, pois é na batalha que nos fortalecemos. Então, caímos, nos arrastamos, nos debruçamos até ouvir novamente Sua voz e, quando isso acontece, nossa fé está restaurada, inundada em um amor gratuito, um amor que é dom de Deus.

As lutas, algumas vezes, são travadas sozinhas, outras vezes, acompanhadas de amigos, familiares, da comunidade e do sacerdote. É preciso caminhar ao lado daqueles que querem nos ajudar a tirar as faixas que nos amarram, assim como é preciso doar-se às amarras do nosso próximo, ajudando-o a libertar-se para a Vida.

Haverá momentos escuros, sombrios e de solidão profunda, mas tudo isso para nossa salvação. A nossa luta agrada a Deus, que nunca nos abandona, mas se alegra de nos ver perseverante, mesmo naqueles momentos que nos afastamos à Sua semelhança e nos deixamos ser conduzidos pelas nossas vaidades. Assim como disse a Santo Antão quando o santo Lhe questiona: “Senhor, onde estavas que não vieste antes para me fazer cessar as minhas dores?”, Deus também nos fala: “Meu filho, eu estava aqui o tempo todo, mas eu queria te ver lutar. Como perseverastes e resististes, serei sempre o teu socorro”.

Peçamos a intercessão de Santo Antão, São Padre Pio e Santa Gema, santos que viveram intensas provações no corpo e na alma, para que à sua semelhança, lutemos perseverantes pelo amor de Deus, para que sejamos merecedores da Sua graça e possamos agradar-Lhe com nossa vida.

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