quarta-feira, 22 de abril de 2015

Obedecer a Igreja Católica

Por Glauber Silveira

Acompanho atualmente um grande número de pessoas, especialmente os jovens, participando ativamente de encontros, retiros e atividades organizados pelos mais variados movimentos e pastorais da Igreja Católica. Isto me alegra, pois é sempre bom ver pessoas querendo conhecer e adorar a Deus. Porém, o que de um lado me traz alegria, por outro lado gera uma preocupação enorme ao constatar que esta participação é muitas vezes motivada apenas por modismo. É o famoso “pra onde a povo tá indo, eu também vou”. E pior, é uma participação sem compromisso com a verdadeira doutrina católica. Essa situação não pode acontecer.

Essa situação é na verdade uma deformação. Não se pode ser seguidor de Jesus Cristo sem aderir integralmente ao ensinamento da Igreja Católica: “Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou.” (Lucas 10,16)

Não é possível ser católico ao seu jeito. Há também aqueles que já vivem há algum tempo dentro da Igreja Católica, vão à Santa Missa, participam das atividades da igreja local, acham bonitas as iniciativas de evangelização, mas na prática vivem do jeito que querem e não desejam prestar contas a ninguém.

Onde quero chegar? No simples fato de que é moda se dizer católico, mas viver como católico poucos querem. Ou seja, por mais que se diga católico e até mesmo use uma cruz, um escapulário, uma camiseta com um santo ou uma santa estampada, é no viver que se comprova a qualidade do catolicismo. Quando se trata de viver os ensinamentos da Igreja, começa-se a relativizar estes ensinamentos. Muitos dizem: “Eu sei que a Igreja diz assim, mas eu não concordo”. E assim, de nada demais em nada demais, vai se tentando fazer largo um caminho que é estreito, e forçar uma porta que é estreita. Jesus ensinou: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram.” (Mateus 7,13)

Quando se pergunta a posição de muitos “ditos” católicos sobre determinado assunto, a resposta começa assim: "Na minha opinião...", quando deve ser: "Conforme a doutrina da Igreja...” Quando trocamos o ensinamento da Igreja pelo que achamos, caímos no pecado da idolatria e passamos a viver como senhores de nossas vidas. Ao colocarmos a doutrina da Igreja acima de nosso pensar, obedecemos a Deus, mortificamos nossa carne e testemunhamos que a Igreja é a verdadeira “coluna e sustentáculo da verdade” (I Timóteo 3,15).

Quando o fiel católico não vive de acordo com a doutrina da Igreja não existe somente um prejuízo para ele; existe também para os que estão afastados da Igreja. Para ele, o prejuízo é viver uma fé falsa, de plástico, pois não tem firmeza na base solida do ensinamento da Igreja. O prejuízo para os que estão afastados da Igreja é que em vez de serem exortados a confessarem e se arrependerem de seus pecados, são estimulados a continuarem atolados em sua miséria por católicos mesquinhos que não vivem a profundidade da fé. 

O verdadeiro católico não é aquele que vive sem refletir, meditar ou usar de discernimento. Porém para o católico, a verdade absoluta esta muito acima da reflexão. O verdadeiro católico é um ser pensante não para viver como deseja e nem para se opuser ao ensinamento da Igreja. O verdadeiro católico é um ser pensante para melhor discernir o caminho a ser percorrido para obedecer aos ensinamentos de Cristo. Lembro-os que estes ensinamentos tem a Igreja Católica como porta-voz e memória continua. O verdadeiro católico deve saber valorizar o sadio pluralismo e a diversidade, porém sabendo que tanto o pluralismo como a diversidade jamais poderão ofender o esplendor da verdade. Pluralismo e diversidade não devem ser exaltados acima da verdade. 

Só para eu dar um exemplo de como a situação esta complicada: a vida de renúncia está cada vez mais longe dos católicos. Me pergunto o que está acontecendo com textos como Mateus 16,25-26 ou II Coríntios 4,7-12. Será que estas passagens (e muitas outras) simplesmente desapareceram da Bíblia do povo? E o exemplo de fidelidade e obediência dos santos? Como está esquecido este testemunho.

Com tristeza vejo que muitos católicos querem somente viver uma vida se regalando do bom e do melhor por aqui, como se isto fosse tudo que temos. Eles tem corrido desesperadamente atrás do tesouro corruptível e deixando o que tem realmente valor em segundo plano: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo.” (Mateus 6,33)

Vejo pais desesperados por oferecerem uma educação cristã a seus filhos, mas que infelizmente não são eficazes nesta tarefa porque eles próprios não estão enxertados na verdade da Igreja: acabam por querer que seus filhos sejam tementes a Deus, mas somente os preparam para este mundo e não para serem bons católicos.

Muitos pregadores, que tem o sagrado dever de transmitir a verdade são tíbios e adulteram cada vez mais a mensagem. O pregador verdadeiro é chamado a carregar e transmitir a verdade: não cabe a ele alterar, adulterar ou omitir nada. Muitos se perguntam o que esta acontecendo com a Igreja Católica, mas estes mesmo relativizam em suas palavras e no seu testemunho diário a verdade católica.

Enquanto os católicos tiverem medo de serem obedientes ao ensinamento da Igreja, teremos templos cheios de pessoas vazias da graça de Deus. Se queremos um catolicismo sadio, com pessoas realmente convertidas e capazes de modificar a sociedade, então temos que começar a repensar como esta a nossa pregação e como esta a nossa fidelidade ao ensinamento da Igreja. 

E quando escrevo sobre fidelidade, também desejo me estender para a questão litúrgica. Entristeço-me ao ver que nossas ações litúrgicas, estão cada vez mais centradas no homem. Até os grupos de oração, que tem a função de louvar, glorificar e exaltar a Deus tem se tornado em muitos lugares espaços de louvação de homens e das necessidades humanas. Não precisamos de show em cima dos altares; precisamos de um ardoroso espírito de adoração e contemplação perante o Sacrifício de Jesus, que se entrega livremente ao Pai Eterno pelas mãos dos sacerdotes. Não precisamos de Matrimônios embebidos de músicas seculares que em nada transmitem a verdade de que o sacramento do matrimônio é: um compromisso para toda a vida, baseados na fidelidade, no respeito e no amor. Os católicos não precisam ver um show quando vão à Igreja: eles precisam ser motivados para serem pessoas virtuosas e tementes a Deus. 

Mais aí temos outra vertente do problema: como os fieis católicos podem ser estimulados a serem obedientes ao ensinamento da Igreja, se até muitos da hierarquia são os primeiros a não terem obediência para com a Igreja? 

A crise do catolicismo, especialmente no Brasil, se deve a continua desobediência a doutrina da Santa Igreja Católica, estendendo para as leis (litúrgicas e as que regem a disciplina dos fieis). 

O cenário é caótico. Em vez de renovar, temos verdadeiros católicos deformados. O que me traz esperança (embora em meio a sofrimentos e dores) é saber que a Igreja pertence a Deus e não a homens. E que na história do povo de Deus, sempre houveram homens e mulheres que mesmo em meio a desobediência, idolatria, apostasia, se mantiveram firmes ao ensinamento da Igreja.

Que os santos nos ajudem a sermos obedientes ao ensinamento da Igreja.

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