domingo, 10 de outubro de 2010

Amar ao mundo ou amar a Deus?

Hoje estive refletindo sobre a velha questão a respeito de onde um jovem católico pode ir e onde ele não deve ir. Sempre têm os extremos; os que defendem com unhas e dentes o seu ponto de vista.
Uns são mais puritanos, e defendem que o jovem católico deve ser mais recluso do mundo. Não deve o jovem ir a locais que toquem músicas profanas, freqüentadas por pessoas com segundas intenções, por exemplo.
Outros estão na outra ponta da discussão e pregam aos quatro ventos que o jovem deve ir a todos os ambientes: eles devem ir a todas as festas, todos os barzinhos, todos os eventos e shows e ali devem dar testemunho de Jesus Cristo.
Analisando as posições, encontro alguns desajustes em ambas as partes. Percebo uma fatia de puritanismo muito salgado. Afinal, quem gosta de coisa muito salgada? Quem gosta de muito sal é vaca.
Uma coisa é o jovem descobrir que tem a vocação de ser um monge, um frei ou um irmão de comunidade de contemplação. Outra coisa é ser um jovem enclausurado na rotina de ir somente à escola (ou faculdade) e ficar em casa. Ou em alguns casos, poder freqüentar somente pouquíssimos ambientes selecionados por uma visão puritana.
Mas vou ser sincero. O que mais me preocupa no pensamento jovem católico atual não são os pensamentos e atitudes puritanas. O que me preocupa são os pensamentos liberais. São aqueles que pregam que temos que adentrar em todos os ambientes e cristianizar. Eu particularmente não concordo com isto. Não concordo baseado no que tenho visto na minha caminhada de fé.
As pessoas tem que amadurecer até o ponto de enxergar que mundo é mundo. E sempre será mundo. Coisas sagradas são coisas sagradas e sempre serão sagradas, porque Deus santificou. Entender isso não significa que a juventude católica deve se fechar para o mundo. Ao contrário, a juventude tem que ser fermento para a sociedade. Mas a juventude tem que entender que tem certos locais que geram certas situações em que Deus não pede para enfrentarmos. Ao contrário: Deus pede para que fujamos. Deus pede que saiamos daquele ambiente. Em I Coríntios 6,18 Paulo diz:

“Fugi da fornicação.”

Não devo enfrentar a fornicação. A palavra de Deus diz FUGI!
Fugir no dicionário Aurélio significa:
1. Retirar-se às pressas para escapar a algum perigo; pôr-se em fuga; abalar, escapar, escapulir(-se), mandar-se, arrancar(-se), azular, raspar-se, dar no pé.
2. Ir-se afastando.
3. Passar depressa.
Da mesma forma, existem lugares que não são convenientes para um jovem católico. Existem shows que acontecem em Uberlândia que não devem ser freqüentados por verdadeiros jovens católicos. Imagina um pregador do Repic ser visto no Uberlândia Fest Folia? Imagina um líder jovem da RCC ser adjetivado como um grande freqüentador das noites uberlandenses? Sinceramente isto não se mistura. Temos que entender que alguns shows na festa do Camaru também não são adequadas.
Algo que me irrita é o velho argumento de que a presença deles ali está evangelizando. Se esta evangelizando, então mostre as vitórias. Onde estão os frutos? Quantas pessoas se sentiram amadas por Deus através de você naquele último show da Claudia Leite? Quantos jovens foram impactados pelo poder salvador de Jesus Cristo naquela última balada que você foi?
Muitos vão responder que na verdade não tem como saber, mas que somente a presença deles naquele ambiente foi capaz de dar testemunho de como viver sobriamente. Eu tenho minhas dúvidas. Primeiro porque o que salva é a fé em Jesus acompanhada de obras que testemunham esta mesma fé. E a fé vem pela ouvir. Ou seja, alguém recebe o dom da fé, quando ouve a pregação da Palavra de Deus. Isto esta lá em Romanos 10,17:

“Logo, a fé provém da pregação e a pregação se exerce em razão da palavra de Cristo.”

Outro argumento que tenho é que os que defendem que os jovens católicos devem ir em todos os lugares levando a graça de Jesus Cristo, são geralmente pessoas que não tem uma vida espiritual exemplar. Digo isto, porque não são pessoas que tem uma vida de oração intensa. Quando você conversa com elas, elas não exalam o doce perfume de Cristo da forma que devem  exalar (ou pior: não exalam perfume espiritual nenhum).
E aí que esta a questão. Para evangelizar verdadeiramente, eu tenho que ter frutos espirituais. Para evangelizar em ambientes difíceis eu tenho que praticar as virtudes. Tenho que ser doce, amável, paciente, verdadeiro, alegre, sincero, amigo. Tenho que ter lapidado em mim, a fé a esperança e a caridade. Tenho que amar a Deus, a Igreja. Tenho que amar e viver a doutrina católica. Um soldado não pode ir despreparado para a batalha. E soldados despreparados são o que eu mais tenho visto em minha jornada de fé.
A juventude desejosa de ser santa deve entender é que o mundo, as coisas mundanas, são contrárias as coisas de Deus. Se eu quero ser santo tenho que ter esta consciência.
Ter o mundo como força contrária não significa ser alheio ao mundo, se ausentar do mundo. Entender o mundo como empecilho a salvação não significa abandonar as realidades que estão no mundo. Ao contrário: é receber de Deus (e não do mundo) a capacitação para ser apóstolo de Jesus. Eu não amo o mundo, justamente porque eu tenho que modificar o mundo (pelo menos a parte do mundo que eu vivo). Por isto eu não posso me acomodar. O mundo esta de cabeça pra baixo e eu sou chamado por Deus a colocar os valores do Evangelho no mundo. Colocar valores evangélicos no mundo é compreender que devo fermentar alguns ambientes com estes valores e em outros ambientes eu simplesmente devo me ausentar. É isso mesmo! Existem lugares que devem parar de funcionar. Eles devem ser banidos da sociedade. Esses lugares não devem ser freqüentados por cristãos.

“Procurai o que é agradável ao Senhor,
e não tenhais cumplicidade nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, condenai-as abertamente. Porque as coisas que tais homens fazem ocultamente é vergonhoso até falar delas. Mas tudo isto, ao ser reprovado,
torna-se manifesto pela luz.”
Efésios 5,10-13

Hoje, parece que sumiu das pregações o verbo DENUNCIAR. Mais do que nas pregações, quase não tenho visto pessoas que tem agido conforme pede o Evangelho. Não tenho mais visto pessoas como João Batista, que foi duro em sua posição, que denunciou e ganhou como recompensa ser considerado o maior entre os profetas.

“Em verdade vos digo: entre os filhos das mulheres,
não surgiu outro maior que João Batista.” Mateus 11,11

Outra palavra que tem caído no esquecimento da juventude católica é a RADICALIDADE. Ser radical não é ser fanático. Ser radical é fazer as coisas na verdade de verdade e pra valer. Por exemplo: Se eu decido ser católico, então eu vou ser católico de verdade. Vou viver a fé de forma integral, sem meios termos, sem desculpas, sem apresentar argumentos contraditórios, sem reservas. Isto é ser radical. Ser radical é ir à raiz. E fazer as coisas desde o começo da forma correta. E não coadunar com adaptações baratas do plano original. Ser radical é viver pra valer, não de mentira ou empurrando com a barriga.
Radicalidade exerce em nós uma virtude: a virtude de sermos violentos conosco mesmo. Afinal, o Reino de Deus é dos violentos. Foi Jesus quem disse:

“Desde a época de João Batista até o presente,
o Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam.”
 Mateus 11,12

Ser violento consigo mesmo, significa que custe o que custar, mesmo que minhas emoções, meus problemas, minha vida pressione, eu não vou modificar a minha meta. Por isso disse que a radicalidade faz exercitar a violência interior. Somente quando somos violentos em relação a nossa reta vontade e que conseguimos sermos fiéis a nossa meta.
Neste artigo já falei sobre os puritanos, sobre os liberais e suas idéias. Apresentei alguns argumentos apresentados pelos liberais. Já refutei estes argumentos liberais e já falei até mesmo da necessidade de sermos jovens que denunciam o mal e o erro e que devemos ser radicais. No entanto, ainda não apresentei algumas provas para testificar de que embora estejamos no mundo, o mundo é contrário a obra de Deus. Então vamos lá.
Primeiramente, friso de que Deus amou o mundo. Este amor fez com que o Pai enviasse seu Filho Único para salvar o mundo. Porém o mundo rejeitou o amor do Pai e do Filho. O mundo se rebelou. Mesmo assim, Jesus veio. Sua vinda foi para derramar seu precioso Sangue para a remissão dos pecados daqueles que se abrissem a esta graça.
João 3,16 prova que Deus amou o mundo:

“Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.”

No evangelho de João, percebemos que o mundo não aceitou Jesus:

“O Verbo era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem.
Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o reconheceu.
Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.” João 1,9-11

O mundo renegou o amor de Deus. Por isso, o mundo é conflitante com a vontade de Deus. Se Deus pede para você ir para a esquerda, o mundo vai fazer tudo para que você vá para a direita.
Outro fato é que o mundo não tem luz, não tem verdade, não tem bondade. Os discípulos de Jesus é que são a luz do mundo:

“Vós sois a luz do mundo.” Mateus 5,14

As obras mundanas são desprovidas de toda luz. O que provém do mundo é inferior. O mundo não pode receber o Espírito da Verdade. Por mais que desejamos, o mundo, como falei, sempre será o mundo. A forma de pensar mundana, terrestre, materialista sempre será deste mundo.

“É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós.” Mateus 14,17

Outra verdade que pra mim é uma das mais importantes: o mundo odiou a Jesus e o mundo odiará os seguidores de Jesus:

“Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós. Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como sendo seus. Como, porém, não sois do mundo, mas do mundo vos escolhi, por isso o mundo vos odeia.” João 15,18-19

“Dei-lhes a tua palavra, mas o mundo os odeia, porque eles não são do mundo, como também eu não sou do mundo.” João 17,14

Jesus chega a declarar que Ele, o Filho de Deus venceu o mundo:

“Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo.” João 16,33

Outras passagens alicerçam mais a dualidade entre o verdadeiro cristão e o mundo:

“Ora, nós não recebemos o espírito do mundo, mas sim o Espírito que vem de Deus, que nos dá a conhecer as graças que Deus nos prodigalizou” I Coríntios 2,12

“os que usam deste mundo, como se dele não usassem.
Porque a figura deste mundo passa.” I Coríntios 7,31

“(Jesus) se entregou por nossos pecados, para nos libertar da perversidade do mundo presente, segundo a vontade de Deus, nosso Pai” Gálatas 1,4

“Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares.” Efésios 6,12

“(Jesus) veio para nos ensinar a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver neste mundo com toda sobriedade, justiça e piedade...” Tito 2,12

“A religião pura e sem mácula aos olhos de Deus e nosso Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições, e conservar-se puro da corrupção deste mundo.”
Tiago 1,27

“Adúlteros, não sabeis que o amor do mundo é abominado por Deus? Todo aquele que quer ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” Tiago 4,4

Para terminar sobre como o mundo é nocivo, cito o trecho de I João 2,15-17:

“Não ameis o mundo nem as coisas do mundo.
Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai.
Porque tudo o que há no mundo - a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida - não procede do Pai, mas do mundo.
O mundo passa com as suas concupiscências,
mas quem cumpre a vontade de Deus permanece eternamente.”

Iluminados pela Palavra de Deus, a juventude tem que entender que ela não deve receber nada do mundo. Não deve esperar consolações, alegrias, confortos do mundo. Ao contrário: a Juventude recebe de Deus e depois deve ir ao mundo para transformá-lo. O mundo deve ser transformado. E esta transformação será realizada com a força de Deus e não com as nossas forças.
A juventude liberal deve parar de querer fazer as pazes com este mundo. Deve parar de pensar que tudo é permitido, que tudo posso fazer, que posso estar em todos os lugares. Pensar assim, é se deixar moldar pelos parâmetros do mundo.
O jovem deve pensar duas vezes, se seu comportamento está agradando ao não a Deus. Se as músicas são sensuais, se pregam uma doutrina anti-católica. Os jovens tem que ser criteriosos com tudo. Com o vestir, com a moda, com o que comer, com o que lêem, com o que aprendem. Afinal, a meta do jovem católico não é a terra, mas sim o Céu.
Que o Espírito Santo nos livre, de todo apego as coisas do mundo, a tudo que o mundo nos oferece e nos faça amar a Deus acima de tudo e querer sempre fazer a sua vontade.
Santíssima Virgem Maria, Mãe da graça, rogai por nós!

Glauber Silveira
G.O. Divina Misericórdia
Ministério Jovem

Nenhum comentário:

Postar um comentário